quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Rastreabilidade de alimentos é coisa rara no país

Aniele Nascimento/Gazeta do Povo / Produto rastreado traz todas as informações sobre a sua origem, do processamento à distribuição: respeito ao cliente. 



Publicado em 12/11/2014 |

Produto rastreado traz todas as informações sobre a sua origem, do processamento à distribuição: respeito ao cliente.



Consumidor tem dificuldades para identificar a origem de metade dos produtos, segundo pesquisa do Idec. Verificação não é obrigatória no país

Quais são os critérios mais importantes na hora de optar entre um alimento ou outro? O sabor, o preço ou a marca são, geralmente, os mais citados. Mas aqueles que priorizam itens como segurança e sustentabilidade encontram muitas dificuldades para saber quem produziu e quais foram os caminhos do alimento até chegar às prateleiras. A verificação da origem do produto é feita por meio de rótulos ou etiquetas com códigos para verificação pela internet ou QR Code. Porém, muitos destes sistemas apresentam falhas na apresentação dos dados ou informações incompletas.
Além disso, são poucos os produtos que contêm informações para rastreabilidade. Pesquisa do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) revelou que alimentos orgânicos e industrializados oferecem o maior número de dados, enquanto produtos vendidos a granel têm poucas informações. O fato de a verificação ainda não ser obrigatória no país agrava a situação.
Empresa inova e cria sistema de rastreamento
Uma empresa catarinense enxergou na rastreabilidade de produtos uma oportunidade e desde 2005 investe nesta área. A PariPassu criou um sistema de registro de informações sobre mercadorias que atende empresas de todo o Brasil. Há dois anos, a Ceasa do Paraná adotou o sistema e hoje todos os produtos comercializados no local são rastreados.
Todos os envolvidos no processo de fabricação e comercialização do alimento estão incluídos na compilação dos dados. Os produtores registram as informações sobre o produto e seus compradores em um sistema eletrônico que cria um código identificador. Na sequência, os responsáveis pelo transporte e distribuição também inserem os dados referentes à mercadoria, a partir do seu código. Assim, o alimento chega ao comércio etiquetado para consulta do cliente.
Esse registro, ao ser colocado no site da empresa, vai detalhar todos os caminhos percorridos e nomes dos responsáveis pela produção do alimento. Em alimentos sem embalagem, o cliente pode utilizar o QR Code para obter essas informações pelo celular. “É um processo de colaboração que facilita o acesso à informação e gera transparência. Além disso, atinge todos os elos da cadeia de abastecimento”, afirma o diretor da empresa Giampaolo Buso.
Segundo ele, apesar de ser um mercado pouco explorado, a tendência é que a rastreabilidade seja ainda mais discutida e ampliada ao longo do tempo. “Estamos em um processo de consciência que está amadurecendo e cada vez mais a sociedade vai evoluir e exigir informações sobre os produtos que está comprando”, afirma.
Levantamento
Produtos a granel têm número baixíssimo de informações

O Instituto de defesa do Consumidor (Idec) realizou uma pesquisa com cerca de dez itens em seis redes de supermercados de São Paulo e em seus sites, e verificou que a rastreabilidade ainda é falha para a maioria dos alimentos, especialmente para os produtos que não são embalados. De todos os itens pesquisados, os orgânicos possuíam 56,5% dos produtos rastreados; os convencionais, 28,7%; e os a granel, apenas 0,06%. Entre os embalados, somente 42,6% dos produtos continham informações. A pesquisa também identificou falhas nos sites de rastreabilidade e nos códigos de verificação dos produtos.

Na íntegra

Para conferir a pesquisa, basta acessar o link: http://bitly.com/1xql8j7

O diretor-presidente da Ceasa-PR, Luis Damásio Gusi, afirma que a rastreabilidade completa está muito além das informações presentes no rótulo. “O cliente tem que ter a possibilidade de verificar tudo, desde a origem até a distribuição e a comercialização”, explica.
O coordenador do projeto Fábrica do Agricultor da Emater, João Nishi de Souza, afirma que a rastreabilidade só é 100% confiável se houver uma certificação auditada que confirme as boas práticas de produção do alimento. Ela evitaria, por exemplo, que produtos fossem comercializados como orgânicos sem atender às características desse tipo de alimento.

Fiscalização

As dificuldades para a obtenção de informações sobre os alimentos também afetam a fiscalização. A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) realiza a certificação fitossanitária, que verifica a produção de alimentos de origem vegetal. A fiscalização fica restrita ao momento da produção, mas, segundo o gerente de sanidade vegetal do órgão,
Mariclio Martins Araújo, o cenário poderia ser diferente. “Se pudéssemos rastrear um produtor que vendeu um alimento em más condições, ele poderia ser responsabilizado”, diz. A pesquisadora do Idec Renata Amaral afirma que a mesma dificuldade ocorre na análise de resíduos de agrotóxicos da Anvisa. “Com a falta de rastreabilidade, não se consegue chegar na origem.”
Souza diz que a rastreabilidade é obrigatória em outros países, mas no Brasil ainda enfrenta dificuldades. “Os mercados caminham de acordo com a exigência do cliente, mas as pessoas compram muito por preço e pouco exigem essas informações. Faltam políticas públicas nesse sentido.”
Segundo ele, no país ainda se discute o problema da fome e o debate sobre a rastreabilidade fica restrito às classes mais elevadas.

Portaria da Sesa vai regularizar rotulagem de frutas e verduras

A rastreabilidade é um problema que ainda está longe de ser resolvido, mas algumas iniciativas vêm sendo realizadas para tentar resolver o problema. A Secretaria de Saúde do Paraná deve publicar em dezembro desse ano uma resolução que regularizará a rotulagem de frutas, verduras e legumes. Todos os rótulos deverão conter informações básicas sobre o produtor, as cadeias intermediárias e unidades de consolidação (que envolvem a distribuição), e o produto, como a identificação do lote, data e hora da colheita, validade, peso líquido e formas de conservação.
Para os produtos a granel, a identificação dos alimentos e produtores responsáveis deve estar na gôndola do alimento de modo visível. A regularização dos rótulos deve acontecer gradualmente em até 540 dias. “A resolução dá ao cliente o direito de saber informações sobre o produto que compra e aumenta a preocupação dos produtores para a fabricação de um produto de melhor qualidade”, afirma o chefe estadual da Vigilância Sanitária, Paulo Santana.
A Sesa também participa, em conjunto com Ministério Público, Ceasa-PR, e Associação Paranaense de Supermercados (Apras), de um grupo de trabalho para promover políticas públicas de prevenção e controle do uso de agrotóxicos em alimentos de origem vegetal.
Em alguns supermercados foi implantado o Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (Rama), que realiza a análise de resíduos em produtos in natura e identifica os responsáveis por problemas causados por agrotóxicos.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Oregon e Colorado votam lei de rótulos para transgênicos nesta semana

Empresas de alimentos e de sementes afirmam que as regras impostas na proposta do Estado custarão milhões de dólares para ser implementadas

Por Estadão Conteúdo
 
milho_espiga (Foto: Ernesto de Souza/ Editora Globo)
Os alimentos geneticamente modificados mais comuns 
são milho, soja e beterraba (Foto: Ernesto de Souza/ 
Editora Globo)

Os Estados de Oregon e Colorado, nos Estados Unidos, farão plebiscitos nesta semana sobre leis de rótulos especiais alertando para a existência de ingredientes geneticamente modificados em alimentos. Neste ano, foram criados projetos de lei sobre este assunto em 28 Estados dos EUA. Se este número aumentar, é provável que o tema comece a ser discutido pelo governo federal. 
Pesquisas recentes sugerem que o referendo no Oregon tem chance de ser aprovado, enquanto no Colorado, a iniciativa deve ser reprovada. No Oregon, o projeto prevê que as embalagens de alimentos incluam as palavras "geneticamente modificado". Empresas de alimentos e de sementes afirmam que as regras impostas na proposta do Estado custarão milhões de dólares para ser implementadas, uma vez que os itens destinados ao Oregon precisarão ser embalados separadamente. Isso levaria a um aumento de preços para os consumidores.

Doações para a campanha contra a proposta foram feitas por empresas como Pepsico, Coca-Cola, Kraft Foods, DuPont e Monsanto. Os alimentos geneticamente modificados mais comuns são milho, soja e beterraba, normalmente projetados para resistir a pesticidas. A Administração Federal de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês) não exige rótulos especiais em alimentos geneticamente modificados e afirma que as culturas modificadas não são diferentes das variedades comuns.

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