O problema das intoxicações e doenças produzidas pelos agrotóxicos e afins no Brasil representa a expressão máxima da insustentabilidade do atual modelo agrícola, pautado no chamado padrão “revolução verde”, intensivo em capital e em insumos químicos.
A partir da implantação deste modelo na década de 60, não só no Brasil como também nos demais países da América Latina, as repercussões foram trágicas do ponto de vista dos impactos à saúde humana e ambiental. Este modelo, além de colocar o país numa posição de dependência científica e tecnológica em relação aos países do chamado Primeiro Mundo, determinou ainda processos de desmatamento e mecanização intensivos, levando à compactação do solo e intensos processos erosivos.
Segundo Washington Novaes, 2001, com os desmatamentos, houve acelerado processo de perda da biodiversidade no país, que detém de 20 a 22% de todas as espécies existentes no planeta. Os dados relativos à destruição dos biomas nacionais são alarmantes: restam pouco mais de 5% da Mata Atlântica; na Amazônia, a área desmatada corresponde a 600 mil quilômetros quadrados; nos Cerrados, os últimos estudos apontam para uma área intocada menor que 5% e a ocupação de forma intensiva de 40% deste bioma; no Semi-árido, os números dão conta da existência de 800 mil quilômetros quadrados em processo de desertificação e cerca de 180 mil quilômetros quadrados já desertificados.
Agravando este cenário, as conseqüências do atual modelo agrícola se fazem sentir ainda na degradação das bacias hidrográficas, cada vez mais assoreadas e poluídas pela emissão de efluentes da bovinocultura, suinocultura e avicultura, mas principalmente pelo carreamento de agrotóxicos e outros elementos químicos. O modelo acarreta ainda, pela necessidade de irrigação intensiva, um forte desperdício de água, que pode chegar a 50%. Outro aspecto é relacionado à eliminação de polinizadores e predadores naturais, contribuindo para o desequilíbrio entre as espécies, o que intensifica o uso dos agrotóxicos. A intesificação do uso, por outro lado, acelera o surgimento de agentes super-resistentes que, num perverso ciclo vicioso, exigem venenos em maior quantidade e mais potentes para o seu combate.
Em última instância, este modelo tem contribuído para o êxodo da população rural nas últimas décadas, promovendo uma dramática e insustentável expansão urbana, fazendo crescer os bolsões de pobreza nas cidades brasileiras, especialmente nas áreas metropolitanas. Segundo dados do Censo Demográfico 2000, na década de 90 prosseguiu a tendência de redução da população rural, inclusive num ritmo mais acentuado que aquele observado na década de 80.
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